Um governo sem rumo

Em 6 de abril João Doria renunciou ao cargo de prefeito, dando lugar ao vice. O PSDB repetiu a operação Serra que, pouco mais de um ano da posse, abandonou em 2006 a Prefeitura para se candidatar ao governo do Estado. Nos dois casos, reiteradas negativas de renúncia ao mandato se revelaram simples trapaça à sociedade paulistana.

Bruno Covas completa cem dias de governo e Doria se ocupa da campanha a governador, sem perder a esperança de ser a alternativa presidencial do “centro” em 2018. Para isso ambos trabalham em conjunto, com a entrega de secretarias e empresas municipais. Nas últimas mudanças conseguiu tirar o apoio do PP a Márcio França, com a entrega da Cohab, e angariou o apoio do PRB a Dória através da Secretaria de Esportes.

O esforço eleitoral da dupla deixou pouco espaço para tratar dos problemas da cidade. O argumento da falta de recursos segue falacioso: a arrecadação soma ganhos reais de quase 6% e o caixa da Prefeitura apresenta recorde histórico, perto dos R$ 10 bilhões, indicando inoperância na execução de programas e investimentos.

Covas mantém a desconstrução de políticas voltadas à periferia. Obras e ampliação de atendimento nos hospitais de Parelheiros e Brasilândia ainda não foram entregues. Construção de escolas e CEUs segue parada e a fila de vagas em creche está em quase 60 mil, em contraste com a promessa de campanha de zerá-la em um ano, meta revista duas vezes.

Mais intrigante é o destino das “vitrines” do mandato: o Cidade Linda e o programa de desestatização. Nada ocorreu, revelando o caráter midiático e publicitário. Quando prefeitos se dedicam a outras prioridades tornam-se secundários o ato de administrar, ouvir o povo e fixar prioridades para o gasto social e urbano.

A zeladoria se resumiu à continuidade do programa de recapeamento iniciado em 2017. Em 7 meses foram consumidos R$ 172 milhões em asfalto. Em contraste, do Cidade Linda sequer se fala, pois desmanchou como maquiagem: as falhas de limpeza e varrição, e de conservação de praças e parques, continuam.

As privatizações e parcerias não passam até aqui de falatório. Covas também tentou vender a cidade em viagens a Londres e Nova York. Nada saiu do papel. O programa serviu só para construir a imagem “pró-mercado” e “eficiência” de Doria para seu voo eleitoral. Diga-se, uma prova de que é possível combinar ineficiência e liberalismo econômico.

Covas, em memória ao avô, poderia priorizar ações voltadas à periferia e à população em situação de vulnerabilidade social. Mas o mapa de projetos parados ou que sofreram cortes segue inalterado, embora a situação orçamentária seja melhor do que a dos últimos três anos.

São Paulo tem um governo sem rumo, onde nada acontece. Covas não tomou nenhuma iniciativa e mantém o que havia de pior na gestão do antecessor: a reversão dos programas de combate à desigualdade e exclusão social. É um prefeito invisível, que parece um apêndice de Doria em seu projeto de poder, às expensas da cidade. Além disso, foi anunciado como reforço da campanha de Alckmin. O prefeito está mais ocupado com a disputa eleitoral do que com as tarefas do cargo.

Antonio Donato é líder da Bancada do PT na Câmara Municipal de São Paulo

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