Terceirização dos CEUs e a educação integral

O secretário Bruno Caetano declarou, na reunião da Comissão de Educação (23/09/2020) da Câmara Municipal, que a secretaria está elaborando em conjunto com a SP Parcerias projeto para mudar a gestão dos 12 novos  CEUs, visando economizar R$ 3 milhões por ano para cada CEU, e que irá oferecer mais atividades para a comunidade. As escolas continuam públicas e diretas – quer “desinfernizar a vida dos diretores”, para focarem somente na aprendizagem.

Com essa declaração o secretário demonstra que não compreendeu a proposta pedagógica dos CEUs e muito menos o que significa Educação Integral. Apequena a proposta educacional, como se a aprendizagem ocorresse apenas nas salas de aula. O triste é que usa os documentos escritos nas nossas gestões para explicar os CEUs na minuta de edital apresentada. Usa sem compreender a proposta pedagógica ali existente.

A terceirização da gestão das atividades fragmenta a proposta pedagógica, acaba com a intersetorialidade.

Fala em economizar recursos, mas Educação é investimento, não gasto. Essa gestão prima por cortar direitos. Contenta-se em ofertar vagas sem olhar para os estudantes e profissionais da educação. Atitude que demonstra não estar preocupado com o desenvolvimento integral dos estudantes da rede municipal de educação.

Os CEUs oferecem diversos espaços como teatros, bibliotecas, estúdios, salas de informática, ginásios, piscinas, quadras, áreas livres de uso comum, além da manutenção, vigilância, limpeza dos espaços e realização de eventos. É um espaço de inclusão promotor da melhoria da qualidade de vida, de expansão para as práticas educacionais, de encontros das escolas ao seu redor, da comunidade.

A proposta dos CEUs não visa apenas a expansão de vagas para atender os estudantes. Foram concebidos como espaço de reflexão, estudos e construção conjunta de conhecimentos, incluindo condições físicas e politicas para considerar a cultura a comunidade e, também, como espaço indutor da construção individual e coletiva da ação pedagógica, proporcionando ao mesmo tempo, um espaço de organização e participação dos diversos segmentos e movimentos sociais.

Tem como princípios o desenvolvimento integral dos bebes, crianças, adolescentes e jovens que são estudantes da rede e também um local que proporcione a troca de experiências educacionais.

Seu espaço exige que o poder publico atue de forma conjunta. A presença das Secretarias de Educação, Cultura e Esportes propiciam, se suas atividades são planejadas, o enriquecimento da ação pedagógica. Os espaços existentes nos CEUs complementam os espaços educacionais, pois nem toda escola tem espaço para ter teatro, estúdios, quadras… Permite diversificar a oferta de atividades que contemplem todas as linguagens culturais.

Os CEUs não são um clube, não existem para propiciar atividades recreativas e de lazer. Estar no território significa participar da produção coletiva da própria existência, significa abranger significados construídos pelas relações sociais que dão significado a conteúdos disciplinares.

O secretário deveria responder por que os espaços existentes nos CEUs servem “para infernizar” a vida dos gestores educacionais na rede publica, mas são espaços muito valorizados nas escolas particulares para permitir a vivência dos estudantes com outras linguagens. Para quem pode pagar, o desenvolvimento aos estudantes é garantido. Onde fica o dever de quem governa em garantir a qualidade educacional?

Cabe lembrar que as obras destes 12 CEUs ficaram paralisadas por três anos e agora, às vésperas da eleição, estão sendo entregues.

 

Cida Perez é ex-secretária municipal da Educação (2003 a 2004)

Antonio Donato é vereador do PT na cidade de São Paulo

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*


*