O QUE NOS DIVIDE?
A partir do texto apresentado pelo companheiro Francisco Chagas , intitulado “O que nos une?”, me senti compelido a entrar no debate sobre o futuro do PT na cidade de São Paulo.
A carta de Chagas, motivada pelo resultado do segundo turno, faz uma leitura bastante enviesada do processo eleitoral, e posso discutir ponto a ponto as minhas divergências com ele, mas quero falar de algo que acredito que ele está certo: unidade com base em que?
A unidade não é só um ato de vontade ou de subordinação a uma maioria, mas sim uma construção a partir de uma base política comum. E essa base política não pode ser apenas proclamada, mas sim praticada, pois já aprendemos na boa doutrina que a prática é o critério da verdade.
E na prática não dá para ignorar que nossa bancada na Câmara Municipal se dividiu em votações importantes desde 2022, expressando políticas contraditórias em relação ao prefeito Ricardo Nunes.
Para não me estender em inúmeros casos, basta ver a posição da bancada na votação da revisão do Plano Diretor. E as duas principais candidaturas desse pleito, refletiram essas duas posições. Não no discurso, pois aí todos foram grandes opositores ao atual prefeito. Mas como a prática é o critério da verdade, os vereadores que votaram contra o Plano Diretor estavam com Hélio e os que votaram a favor estavam com Chagas.
Os agrupamentos foram cristalinos nesse sentido. Isso não quer dizer que os filiados e militantes que apoiaram Chagas concordem com essa política, até porque sabemos que o PED, nos termos em que foi realizado, não é espaço de debate político, infelizmente.
Espero que no Encontro Municipal essas posições sejam confrontadas e aferidas. Mas o fato é que é notória a relação no mínimo “amistosa”, para ser elegante, que parte da bancada manteve e mantém com Nunes. Para além do velho fisiologismo com privilégios em emendas parlamentares e pequenos favores, também existe uma concepção política expressa inclusive em entrevistas, por dirigentes nacionais, que deveríamos ter feito um esforço de dialogo com Ricardo Nunes e não fizemos.
Enquanto PT, é verdade que não fizemos esse esforço, nem ao menos cogitamos, afinal esse debate nunca foi colocado no Partido, mas o mesmo não podemos falar de dirigentes nacionais que promoveram conversas nesse sentido com o prefeito.
E a partir dessa movimentação que ocorreu no final de 2022, parte da bancada começou a dar sinais explícitos de apoio ao prefeito, como, por exemplo, votar a favor da sua proposta orçamentária, algo que nunca fizemos enquanto oposição a qualquer governo na cidade.
Só me atenho a fatos públicos, e eles são graves o suficiente, na minha opinião. Infelizmente, em nome da manutenção de uma falsa unidade, essas questões nunca foram colocadas para o debate com a militância pela direção partidária. E agora explodem no seio da própria corrente majoritária, que teve dois candidatos que expressam diferentes políticas, mas estão juntos na mesma chapa. Isso mostra quão artificial é a continuidade dessa corrente unida, pelo menos em São Paulo.
A tarefa agora é construir um núcleo dirigente que possa expressar a verdadeira maioria política real, aquela que na prática se opõe a Ricardo Nunes, e não a autoproclamada por Chagas em sua carta. Combater Nunes em toda a linha é condição fundamental para derrotar a extrema direita em São Paulo e garantir uma expressiva e vitoriosa votação de Lula em nossa cidade. E para isso precisamos de uma direção comprometida com essa política, no discurso e na prática!
DONATO
Ex-presidente do DM-SP