SESSÃO DE 19/05/2011

19/05/2011

O SR. DONATO (PT) – (Sem revisão do orador) – Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras, todos que nos acompanham pela tribuna, pela galeria e pela TV Câmara São Paulo.

Gostaria de utilizar esse Pequeno Expediente, em primeiro lugar, para ler um pequeno artigo do jornalista Fernando Kanzian, publicado na Folha.com. É autoexplicativo, mas depois vou comentá-lo. O texto é bastante curto e o título é Droga de Elite.

“Higienópolis (cidade da higiene) rechaçou a chegada do metrô. Haveria uma estação no local onde hoje funciona um supermercado Pão de Açúcar, na av. Angélica, esquina com a rua Sergipe. Morei anos ali.

Para quem não conhece, é um bairro rico e central de São Paulo.

Esse canto abrigaria a ex-futura estação do coletivo, agora deslocada para o Pacaembu, com bem menos concentração de pessoas.

O lobby dos ricos venceu. O governo tucano tucanou de novo diante da pressão dos moradores.

Empregadas, babás, porteiros, faxineiros, feirantes, garis, funcionários do Pão de Açúcar e milhares de empregados do bairro que servem diariamente os moradores continuarão sem a melhor, mais rápida, pontual, organizada e limpa opção de transporte público.

Temia-se o aparecimento de camelôs nas redondezas. De “uma gente diferenciada”, um morador chegou a dizer.
Reclama-se muito que São Paulo não consegue ser cosmopolita, democrática.

Vamos a Nova York e à Europa e voltamos deslumbrados. Carentes da não dependência do carro e saudosos de “civilização”.

Não conseguimos fazer o mesmo onde vivemos.

Conviver com o próprio povo é um porre.”

Muita gente acompanhou na última semana essa polêmica sobre a estação Angélica do Metrô. O artigo é bastante claro. Evidente que agora tem uma nova polêmica. Existia um plano do Metrô. Um plano técnico. Disseram que a demanda está na Angélica, na Linha-6 que vai até Brasilândia, aliás, linha prometida já há vários anos. Prometida para 2010, depois para 2014 e agora para 2017. Mas, enfim, havia a proposta de uma estação na Av. Angélica.
E a Associação de Moradores de Higienópolis fez um abaixo-assinado que não queria a estação do metrô. São Paulo inteiro quer metrô e a elite da Angélica não quer o metrô. Mostra bem que não quer com esse argumento de que virá uma gente diferenciada: virão camelôs que vão circular no bairro; a população da Cidade vai circular em Higienópolis. Como é que pode?

O que está em discussão não é uma simples estação do metrô. Isso ficou muito claro, porque a partir dessa matéria da Folha de S.Paulo mostrando que a estação foi transferida para o Pacaembu, o Governo do Estado recuou de novo e está dizendo que será na Rua Sergipe.

Mas, isso pouco importa agora. Importa é o preconceito, algo que foi alimentado na campanha eleitoral passada e que vai se manifestando sem vergonha, cada vez mais legitimado pelo que aconteceu na campanha eleitoral em que se acusaram os nordestinos, os pobres de definirem o resultado das eleições contra o candidato da elite.

Agora se sentem no direito de ter um gueto excluindo o resto da Cidade de circular pela mesma com comodidade a partir de um transporte público decente.

Nas redes sociais, em particular, no Facebook, uma manifestação bem humorada foi convocada – o churrascão da gente diferenciada na porta do Shopping Higienópolis na Av. Higienópolis. Mais de 50 mil pessoas pelo Facebook aderiram a esse protesto e mais de mil, duas mil – alguns falam em quatro mil – pessoas estiveram lá no sábado para fazer o churrascão. O churrascão do povo paulista, do povo paulistano, do povo brasileiro, do jeito que o povo é. Estiveram lá para dizer a essa elite que o Brasil é de todos, não é de alguns.

E é esse o recado que foi passado.É importante registrar que essa reação aconteceu não pelo comando de algum partido ou movimento, mas espontaneamente, a partir da convocação numa rede social por um jornalista que não tem militância partidária. Isso mostra um novo momento, o novo mundo em que estamos vivendo e uma nova Cidade que vai afirmar, sim, o lugar da cidadania com esse tipo de reação à exclusão que a elite quer impor ao aplicar cada vez mais essa política higienista, da qual, aliás, o Governo Kassab é porta-voz, de expulsar os pobres do centro da Cidade e, em alguns casos, da própria Cidade, como aconteceu no Jardim Pantanal, cujos moradores pobres foram transferidos para Itaquá, ou ainda como acontece nas beiradas da Cidade, onde a população, ao invés de ser incluída, abrigada e promovida socialmente, é expulsa para cada vez mais longe.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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