Do Martinica a Moscou: conheça o muralista Eduardo Kobra

Eduardo Kobra, 38, nasceu no Jardim Martinica e, como muitos dos meninos de lá, estudou no EMEF Maurício Simão. Quando tinha cerca de 12 anos e já enchia cadernos de desenhos, conheceu o movimento hip hop, a arte de rua, e passou a aprender sozinho, nos muros da cidade, as técnicas de sua estética única, que acabariam por torná-lo conhecido no mundo inteiro. Agora, Carlos Eduardo Fernandes Leo, o Kobra, será homenageado na Câmara Municipal de São Paulo.
O vereador Donato apresentou um projeto de decreto legislativo (PDL 35/2014) concedendo a Kobra a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, duas honrarias importantes da Casa.
O artista e sua obra em Nova York.

O artista e sua obra em Nova York.

“Sou autodidata, então aprendi tudo sozinho, observando, e de forma muito natural, fazendo as coisas que eu acreditava, dentro de um caminho que eu mesmo trilhei. Só que, obviamente, em alguns momentos eu fui conhecendo outros trabalhos de outros artistas, como os grafiteiros de NY, que seguem uma estética com letras, com alguns personagens e tal. Também conheci outros muralistas, que também fazem um trabalho mais realista, como Diego Rivera, uma galera do México”, conta ele.

Os primeiros traços, há 26 anos, no Jd Martinica, no Campo Limpo

Os primeiros traços, há 26 anos, no Jd Martinica, no Campo Limpo

Kobra começou menino na pichação, e, apaixonado por desenho desde criança, logo passou para o grafite, passando também pela aerografia. A primeira vez que grafitou foi em um muro na subida da rua Roque de Mingo, no Jd. Martinica mesmo. Hoje, se dedica principalmente ao muralismo e ao grafite. Sua arte é famosa e facilmente reconhecida por elementos como o realismo e o trabalho com tridimensionalidade. Tudo isso ele foi criando e aperfeiçoando traço a traço, às vistas da cidade.
Um dos grafites de protesto e temática ambiental que Kobra realiza  por São Paulo.

Um dos grafites de protesto e temática ambiental que Kobra realiza
por São Paulo.

“O que eu sempre curti fazer foram desenhos com características mais realistas, com luz e sombra, sempre esse foi o meu caminho. Mas era um caminho que não tinha muita aceitação na rua, nunca teve. Tive que batalhar por ele, acreditar e seguir sozinho, realmente, porque eu não tinha muito em quem me espelhar, em quem buscar minhas influências. Porque 90% de todo mundo que tá pintando hoje nas ruas segue influências de alguns artistas específicos de street art. Então eu tive que procurar outro caminho, sofri uma série de preconceitos por causa disso. Mas acho que hoje isso foi desmistificado”.
O projeto "Muros da Memória" é um dos mais populares de Kobra.

O projeto “Muros da Memória” é um dos mais populares de Kobra.

O sucesso do caminho aberto por ele pode ser visto em conquistas como o imenso muro de 18 andares de altura na lateral de um prédio na avenida Paulista, que ele ocupou com um retrato de Oscar Niemeyer. Ou com painéis semelhantes que ele tem hoje espalhados por Londres, Los Angeles, Moscou, Nova York. Só em 2014, Kobra foi convidado para pintar em nove países. E, com igual destaque, ainda pinta a zona sul da cidade, criando obras como o retrato do Racionais MC’s na Vila Fundão.
O impacto da arte de Kobra na paisagem paulistana.

O impacto da arte de Kobra na paisagem paulistana.

“Meu trabalho não existiria se eu não tivesse nascido onde eu nasci, no Campo Limpo. Ele só existe por isso. Porque foi ali que eu conheci todo esse movimento de hip hop, essa galera que tinha esse envolvimento com a street art, essa liberdade que a arte de rua proporcionava e que mexia comigo”. Além disso, ele contou com a confiança proporcionada pela aceitação estética que só a periferia dava naquele momento, e que garantiu seus primeiros dias como artista. “Foi um envolvimento ali na região, até mesmo pela possibilidade de algumas pequenas contratações, que, de alguma forma, me ajudaram a prosseguir, a ter confiança. Pintei muita escolinha, não tenho nenhum problema com isso”, diz, enquanto se prepara para pintar a fachada de um museu em Roma.

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